Vida sem carro: os impactos do trânsito na saúde mental
Você está a 40 minutos preso na mesma avenida. Nesse tempo todo, seu carro andou um pouco mais de 200 metros, distribuídos em pequenos e esporádicos avanços. A traseira vermelho-cereja do carro da frente já está te causando enjoo e o barulho das buzinas das motos que passam zunindo ao seu lado te deram dor de cabeça. As luzes dos faróis e semáforos começaram a ficar embaçadas. Você só quer chegar em casa.
Mas, depois de mais 20 minutos parado, o trânsito parece enfim começar a fluir. Você finalmente consegue acelerar um pouco e já dá para sentir a água do chuveiro caindo e lavando todos os problemas do seu dia. Nesse segundo de distração, o carro ao lado invade sua faixa, sem dar seta, e você mal tem tempo de frear. A batida é leve, mas tem força suficiente para amassar os dois veículos.
Discussão, ofensas, seguro, guincho, oficina, mecânico… O banho relaxante ficou para ainda mais tarde.
Se você mora em São Paulo, ou em outra grande metrópole, provavelmente passou por situações parecidas e já sabe: o trânsito da cidade não é nada bom para a nossa saúde mental.
No entanto, a psicologia do trânsito ainda é um assunto muitas vezes marginalizado no Brasil. A área é ativada apenas durante o teste psicotécnico, no processo de habilitação. Os cursos preparatórios para a CNH não costumam mencionar os problemas psicológicos que podem ser desencadeados pela complicada rotina atrás do volante e a consequente queda na qualidade de vida dos motoristas.
Saiba agora um pouco sobre os possíveis danos que o trânsito pode ter em sua saúde mental.
Estresse no trânsito
A alteração psicológica mais palpável no trânsito é sem dúvida o estresse. Em qualquer passeio curto de carro conseguimos notar em outros motoristas (e em nós mesmos) um nível maior de irritação. Por quê?
Biologicamente, o estresse é a liberação de adrenalina e cortisol em altos níveis na corrente sanguínea. É a reação do corpo a momentos de frustração, preocupação, nervosismo, irritação e medo. Ficar preso em um engarrafamento ou ser atrapalhado por outros condutores, por exemplo, são situações que despertam essas sensações e tornam o trânsito um ambiente altamente estressor, deixando os motoristas sempre com os nervos à flor da pele.
Segundo pesquisa realizada para a Escola do Parlamento de São Paulo, 88% da população da cidade declara sofrer com alguma forma de estresse. Dentre os ouvidos, 10,9% declararam o trânsito como o maior causador desse problema. Os dados são preocupantes, já que o estado emocional do motorista tem interferência direta em sua tomada de decisão e seus níveis de concentração.
Consequências psicológicas
Mas os problemas causados pelo estresse no trânsito não acabam nas ruas. O aumento frequente no nível de adrenalina e cortisol tem efeitos negativos na qualidade de vida do motorista.
Insônia
Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), 65% dos brasileiros têm insônia ou baixa qualidade de sono. Uma das principais causas desse problema está nas alterações hormonais provocadas pelo estresse excessivo.
Assim, é comum que alguém que enfrente o trânsito voltando do trabalho para casa tenha problemas para dormir algumas horas depois, já que os níveis de adrenalina dessa pessoa ainda estarão alterados pelo estresse.
Uma noite mal dormida gera mais cansaço, que gera mais estresse e mais noites mal dormidas. O ciclo é extremamente perigoso e pode agravar o problema de maneira irreversível.
Depressão
Além da adrenalina, o cortisol também sofre alterações durante situações de estresse. Quando o nível desse hormônio aumenta muito, uma redução simultânea de dopamina e serotonina ocorre. A queda dessas substâncias é a principal causa da depressão.
Por tanto, a frequente exposição a situações estressantes, como o trânsito de São Paulo, aumenta também a frequência dessas quedas e o risco de desenvolvimento da doença.
Ansiedade generalizada
Possivelmente o transtorno mais diretamente relacionado com o estresse, a ansiedade generalizada causa nervosismo e preocupações excessivas em situações cotidianas, interferindo negativamente na vida social e profissional de quem sofre com o problema.
A exposição constante a situações de estresse, causa e agrava a ansiedade, podendo torná-la crônica e originar transtornos mais graves, como a síndrome do pânico.
Transtornos alimentares
O estresse pode ter efeito direto nos hábitos alimentares, podendo tirar seu o apetite ou te fazer comer de maneira compulsória.
Em estudo sobre transtornos alimentares realizado pela universidade americana de Ball State, 81% dos entrevistados afirmaram terem passado por mudanças de apetite em momentos de estresse, com 62% apresentando um aumento na vontade de comer e 38% experienciando uma diminuição.
A explicação para isso está na alteração no nível de grelina, substância gástrica responsável pelo apetite, causada pelo estresse. Portanto, é comum que pessoas estressadas tenham flutuações constantes no peso e uma rotina alimentar ruim.
Consequências físicas
Além dos problemas mentais, o estresse também tem consequências físicas. Doenças que afetam pele, estômago, intestino, pâncreas e até o coração já foram relacionadas ao distúrbio.
O problema físico mais comumente relacionado ao estresse no trânsito, no entanto, é a cefaleia, a famosa dor de cabeça.
Segundo estudo do Ministério de Educação e Pesquisa da Alemanha, em parceria com o Hospital da Universidade Duisburg – Essen, pessoas com estresse sofrem uma quantidade 6,3% maiores de dias do mês com dor de cabeça.
Mude sua rotina
Atualmente, em grandes cidades como São Paulo, existem diversas opções de mobilidade que podem te ajudar a evitar o estresse de ficar preso em um carro.
As linhas de metrô e trem, por exemplo, abrangem boa parte da cidade e costumam ser um transporte mais rápido do que os carros. Morar perto de uma dessas estações basicamente acaba com a necessidade de automóveis, otimiza seu tempo e melhora sua qualidade de vida.
Os corredores de ônibus também ajudam a driblar o trânsito, mas nem sempre evitam os engarrafamentos. No entanto, sem a preocupação de dirigir, você pode utilizar o tempo “engarrafado” para outras coisas: ler, estudar, jogar ou até mesmo só se distrair nos feeds das redes sociais.
O uso de bicicleta também é bastante incentivado nas maiores cidades do mundo, especialmente por ser uma opção saudável, sustentável e divertida de transporte. Em São Paulo, por exemplo, são 680 km de ciclovias e ciclofaixas, que auxiliam na locomoção pela capital. Além disso, diversos empreendimentos hoje contam com bicletários, espaços especiais reservados, não só para guardar, mas também para as manutenções necessárias das bicicletas.
No entanto, se o uso de carro é indispensável em sua rotina, algumas medidas podem ser tomadas para diminuir o estresse nos veículos. Músicas relaxantes e podcasts podem ajudar, além de um bom exercício de respiração. Tente também manter uma boa ergonomia e uma temperatura agradável no carro.
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